"Polícia sem estrutura faz bandidagem se sentir à vontade", alerta presidente do Sindpesp

Segundo indicadores recentes da Secretaria de Estado de Segurança Pública, sequestros, feminicídios, furtos e roubos explodiram em 2022; para a delegada Jacqueline Valadares, falta de investimentos na Polícia, sobretudo no setor de Investigação, faz com que quadrilhas e organizações se multipliquem

Indicadores oficiais da Segurança Pública comprovam: os crimes explodiram no estado de São Paulo em 2022. Sequestros aumentaram 143% e feminicídios, 40%, enquanto os furtos alcançaram 20% e os roubos, 9%. O sucateamento da Polícia Civil ao longo das últimas gestões contribuiu para esta preocupante realidade, segundo analisa a presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), Jacqueline Valadares.  

"Chegamos ao ponto em que, sem a estrutura para a investigação a fundo das organizações criminosas, e sem a devida punição, os bandidos se sentem à vontade para cometer todo tipo de crime contra a população paulista. Da mesma maneira que falta investimentos na Polícia Civil, falta na Polícia Militar. O patrulhamento ostensivo, por exemplo, também não consegue alcançar todas as regiões do estado e em todos os períodos. Isso só faz com que a oportunidade para o crime aumente", lamenta a delegada.  

Divulgado há poucos dias, o levantamento da Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado de São Paulo referente a 2022 mostra que foram registrados 56 casos de extorsão mediante a sequestro no estado contra 23 casos do tipo em 2021. Estes números representam aumento de 143% neste crime - maior índice entre todas as demais ocorrências quantificadas nas estatísticas do Palácio dos Bandeirantes.  

Este crescimento vertiginoso é atribuído em grande parte à facilidade proporcionada pela transferência via Pix e por golpes que acontecem com a utilização de aplicativos de namoro, com as vítimas sendo atraídas a emboscadas e mantidas em cativeiro, até que os bandidos consigam extorquir dinheiro. 

 

Ainda segundo os números da Secretaria de Segurança Pública paulista, feminicídios cresceram 40%, de 140 casos registrados em 2021 para 195, em 2022. Os furtos passaram de 470,2 mil para 564.940, alta de 20%. Já os roubos subiram de 225.706 para 245.900 registros, um aumento de 9% entre os anos de 2021 e de 2022.  

Os 7% a mais de homicídios entre um ano e outro dizem respeito aos 2.909 casos de 2022 contra as 2.713 ocorrências desta natureza registradas em 2021. Os latrocínios (roubo seguido de morte) subiram também 7%, de 166 para 178 casos; mesmo percentual dos estupros, que subiram de 11.762 para 12.615 vítimas. Para Jacqueline, todos estes índices são indiscutivelmente preocupantes: 

“São números altíssimos. No caso dos sequestros, o maior desafio é chegar às organizações que comandam esses crimes. Mas, para isso, precisamos de policiais que possam se dedicar a fundo nas investigações complexas. Contudo, nem sempre há este tempo, pois os agentes, não de hoje, acumulam trabalho nas delegacias desfalcadas de pessoal. Muitos estão sobrecarregados. Há, ainda, casos em que delegados têm de atender mais de uma cidade, tendo de viajar de um local para outro no mesmo dia”, descreve a presidente do Sindpesp.  

Jacqueline considera positivo o fato de as pessoas hoje terem muito mais acesso à Polícia no registro de Boletins de Ocorrência (B.O) por meio eletrônico. Falta, porém, a contrapartida em Recursos Humanos para o andamento das tratativas, o que inclui a investigação:  

“Hoje em dia, o cidadão, sendo vítima de um crime, não precisa ir mais até uma delegacia. Ele consegue fazer o BO em casa, via Internet. Mas, e depois?! Quem vai investigar os crimes registrados? Sem a investigação e o posterior processo legal, a punição, aumenta o sentimento de insegurança da população e a sensação de impunidade nos bandidos. Como consequência, aumenta a criminalidade”.   

Levantamento recente do Sindpesp revelou que a Polícia Civil tem déficit de 38,5% em seus quadros, com falta de delegados, investigadores e escrivães, entre outros cargos. Os baixos salários também colaboram com o sucateamento da instituição. Delegados em início de carreira em São Paulo, estado com a maior arrecadação de impostos no País, têm um dos piores salários do País - vencimento bruto de R$ 12.458,97. Entre todos os estados da federação, o piso paulista só perde para a Bahia (R$ 11.882,15), Espírito Santo (R$ 11.260,12) e Sergipe (R$ 11 mil). 

O mais recente levantamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública pode ser consultado em https://www.ssp.sp.gov.br/Estatistica/Default.aspx